A paisagem e a concepção arquitetônica
5 de agosto de 2015 |
É a partir das transformações efetuadas por nossas intervenções humanas e as suas relações com os aspectos naturais do lugar em que estão inseridas, que podemos analisar questões relativas à forma como as pessoas se relacionam com o ambiente em que vivem e como constroem e reconstroem o cotidiano de suas paisagens. Estamos voltados para preservação e valoração do privado, o que é público é tratado como de ninguém quando na verdade é de todos.
A arquitetura deve estabelecer esse diálogo para estender o conceito de qualidade da paisagem cultural urbana. Ficamos meio que a mercê de uma lógica mercadológica, presos a uma legislação que privilegia o lote em detrimento da infraestrutura e dos aspectos naturais. As normas urbanísticas criam limites, mas estabelecem índices construtivos que para serem alcançados, resultam em edificações significativamente mais altas. As quadras, elemento base da morfologia urbana, se adensaram horizontalmente e verticalmente, pouco sobrando do conceito original que cria uma relação direta entre os lotes e as ruas numa interface saudável entre público e privado. Os recuos frontais, antigamente locais de jardins, se fecham em grades e muros alterando a natureza espacial e o valor estético paisagístico da rua.
Nossa normativa legal deve buscar valorizar a malha urbana sobre a individualidade dos lotes e edifícios. A demanda do mercado por novas unidades habitacionais não pode continuar sendo aceita como único argumento para justificar a distribuição espacial e a construção de novos prédios, ocasionando expansões exageradas da malha urbana, numa transformação da paisagem onde o urbano engole os espaços verdes e de convivência social.
Existe ainda, a paisagem que pode ser recuperada através de políticas de preservação e restauro de centros urbanos em processo de desvalorização mercadológica, locais com uma morfologia de cidade, historicamente produzido, que não atendem mais aos apelos de marketing, mas apresentam uma malha urbana consolidada e infra estruturada. Lembro apenas que o processo deve ser feito de maneira integrada e sem comprometer a estrutura urbana existente e, em centros urbanos antigos, com valor patrimonial, a paisagem será sempre o foco principal.
Como dizia o mestre Artigas devemos ver “as cidades como as casas e as casas como as cidades”. Sou inconformado com os muros e grades fechando a cidade.
Cristiano Rolim – Arquiteto
Presidente do CAU/PB.